Quarta-feira, 21 de Março de 2007

Dia da árvore

Cada árvore é um ser para ser em nós


Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-a
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses

 

António Ramos Rosa

publicado por julmar às 09:13
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Segunda-feira, 19 de Março de 2007

4º Teste

ESCOLA SECUNDÁRIA DE OLIVEIRA DO DOURO

TESTE DE FILOSOFIA 10º ANO – TURMA A

I

"Alguém tem nas suas mãos um bem que outrem lhe confiou; o seu proprietário morreu e os seus herdeiros nada disso sabem nem podem saber.

            (...) o detentor do depósito, surpreendido justamente nesse tempo (sem culpa sua) com a ruína total da sua fortuna, vê-se rodeado de uma família, mulher e filhos, triste e esmagado pela miséria e dela poderia sair instantaneamente se ele se apropriasse daquele depósito".

                        Kant, In  A Paz Perpètua e outros Opúsculos, Ed.70 (Adaptado)

 

1. De acordo com a moral kantiana, consideras que ao detentor do depósito, dada a sua situação, lhe será moralmente permitido o uso do depósito em proveito próprio? Justifica.

2. Enuncia a máxima que, segundo Kant, deve reger a conduta moral.

3. Coloca as expressões que se seguem no domínio que consideres adequado:

Acção por dever; Acção conforme o dever; imperativo categórico imperativo hipotético; dignidade; preço; pessoa; coisa

              

A- Domínio da Legalidade -

B -Domínio da Moralidade –

 

II

 

1. "POR QUE NÃO DEVEMOS ROUBAR?"

A - Porque é contra a lei. Alguém pode ver-nos e chamar a polícia.

B -Porque é violar os direitos de outra pessoa, neste caso, o direito de propriedade.

C - Porque é uma questão de lei. Se não fosse esta lei, roubava-se, ninguém trabalharia e seria impossível a vida em sociedade.

-Justifica qual das respostas te parece demonstrar um comportamento ético.

 

2. Durante a deflagração de um incêndio num prédio tu tinhas para salvar: Uma ave de estimação, uma pessoa idosa, uma quantia muito avultada de dinheiro teu e uma criança.

-Não sabendo se poderias salvar tudo, qual a ordem que seguirias? Porquê?

 

III

«Perante a pluralidade de valores e de campos de valor (…) coloca-se a pergunta: existem também valores que afectam o homem enquanto homem, que o levam ao desenvolvimento e realização plena do seu ser propriamente humano?»

E. Coreth, O que é o Homem?

 

- Responde à pergunta do texto.

 

IV

Mostrando os pontos essenciais do utilitarismo, explicita as críticas que habitualmente lhe são feitas.

 

Março/2007                                 

http://esod.esb.ucp.pt/moodle/                                                           julmarjs@hotmail.com
publicado por julmar às 13:08
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Quarta-feira, 7 de Março de 2007

A INCONTORNÁVEL

Há quem nunca a tenha visto. E quem só a viu uma vez, o mais certo é nem ter reparado nela. Até pode ter acontecido que se alguém se cruzou com ela por uma segunda vez ao fim de muito tempo, o mais provável é não ter dado por nada. Mas comigo tem sido diferente desde que a consciência de mim se foi levedando. Talvez, digo-o agora, pelo meu gosto de andar, não sei. É que sempre que caminho (em casa, ociosamente sentado, ou a conduzir, não dá para a ver…) seja por uma rua ou por uma viela, seja mesmo por um modesto carreiro antigo, ou até, como já sucedeu, numa avenida bem movimentada, tenho-me cruzado, não raro, com essa personagem. Ainda há poucas semanas, estava eu a chegar aqui, ao lugar da minha casa (era o fim do Verão, ouvia-se ainda a estridência quente das cigarras, e vinha até olhando aquela curva involuntária do rio, o seu curso lento e aberto à foz...),e não é que a vejo ao fundo da rua? Ia algo afastada dos muros do passeio, o seu ar persistente e humano... Lembro-me, num voo de admiração, de ter murmurado: ---Eia, hoje ela passou aqui... mesmo à minha beira! Oh, não tem nada aquele porte distante como há uns anos já lhe vi… E tal como sucedeu noutros encontros puramente ocasionais, gravei dentro de mim este momento breve em que tal visão me acontecia. (Sim, porque ela é de acontecer, pelo menos tem sido assim para comigo…não, minto, tem sido assim eu para com ela). ...Se quando a vejo, atravesso a rua ou deixo tudo para a cumprimentar? Claro que vale a pena caminhar ao seu encontro para a ver melhor, já não diria o mesmo quanto a sentir a frescura táctil dum cumprimento....Parece algo que não bate certo, não é? Mas a minha relação com ela --- e é disso que procuro falar-- foi e tem sido de uma tal maneira que não tenho tido necessidade de saudações nem de cumprimentos esfusiantes... Não sei bem como se passa ou como se passou com quase toda a gente que a conhece, e certamente muito melhor do que eu… E nem sei se ela é para essas pessoas alguém com o mesm calor de importância que eu sinto para com ela. Sei, por exemplo, de um amigo meu que nutre por ela uma relação com uma temperatura mais alta que a minha. Como a reconheço? Ora bem, ela tem na verdade algumas particularidades que a distinguem de outras figuras que, só aparentemente, é que são semelhantes a ela ...Não sei se repararam que já indiquei, sem querer, uma delas que facilitam o meu reconhecimento --- precisamente quando acabámos de nos sentarmos aqui neste terraço, donde vemos o rio,. e vos disse que me cruzava com ela sempre que eu caminhava... Curioso, e até estranho, não é? É que parece que esta característica é minha. Mas se tem algo de mim é pouco; é antes dela…Se eu caminho, é porque em primeiro lugar é a natureza dela que me leva a fazê-lo…que me leva a andar… Claro que as pernas são minhas; mas o seu movimento... Além disto, tem outra particularidade que a torna única: tem sempre o mesmo rosto... Sim, podem crer! Não conheço ninguém assim, e julgo que vocês também não... É espantoso que, ao contrário de toda a gente, e principalmente tratando-se de uma mulher, o seu rosto nunca se tenha alterado...Oh, não me perguntem porquê: quando sinto que sei a razão, tal saber é-me muito difícil de o dispor em palavras...Sei que ela surge assim aos meus olhos; claro que esta peculiaridade me intriga, mas se calhar é também isso que me faz identificá-la mais facilmente...(E ainda bem, senão porque é que estaria para aqui a dar conta destas coisas, não é?). Disse há pouco que se trata duma mulher. Depois que comecei a conhecê-la um pouco melhor ... (atenção, conhecimento que tem tido a ver com o lugar que passou a ocupar dentro de mim...), desde então fui achando mais apropriado dizer que ela é acima de tudo uma senhora... Uma senhora em todos os sentidos. Percebo a vossa reacção... Sei bem que durante um certo tempo houve gente, e muito importante, que chegou a considerá-la do pior que podia haver e ser... Houve quem a tratasse como se ela tivesse de viver escondida numas águas-furtadas... Olhavam-na, e gesticulavam a condizer, como se merecesse ser corrida a pontapés, para não contaminar, pensavam esses, a parte dita nobre da cidade... faço-me entender? E se ela chegou em certas idades do tempo a irradiar um ar vadio --- só de dizer este adjectivo arranha-me um remorso arrepiante --- a culpa não foi dela, mas dos olhos de quem a julgava, olhos que não tinham condições para a ver. (Ainda há quem a veja por uns olhos assim...) Não, definitivamente essa mulher ---que, às vezes, a encontro quando caminho e tem sempre o mesmo rosto --- foi e é uma Senhora.Com a dignidade da maiúscula. Claro, vocês acabarão por aceitar que ela não precisa destas deferências... Há que dizer, em nome da verdade (ou da sua história...?), que também já houve, e foram muitos felizmente, que a consideraram num nível tão elevado a ponto de a reconhecer como o fiel da balança do tempo, ou a dona dos tempos... Foram aqueles que amaram , não a ela própria (pois esses tiveram a inteligência sensível de compreender que tal seria uma estultícia imbecil), mas o efeito que a dona (a senhora) dos tempos criou neles... Estou a referir - me, naturalmente, às consequências afectivas que ela deixou nessas mentes racionais e avassaladoramente indagadoras...Consequências que deram os seus frutos, e com luminosas sementes...Foi o tempo em que da idade das sombras e das penumbras se ergueram muitas luzes... Mais tarde, os que passaram a conhecer esses que tinham amado os seus efeitos, souberam também valorizar o tempo em que toda a cidade, a nossa cidade, se vestia pela medida das suas vestes... Nesse tempo, os que detinham o Discurso, ou os que o legitimavam, (ao contrário de hoje em que toda a gente tagarela --- pois ... e ainda bem, mas mantém-se vigorosa a questão de muitos desconhecerem a causa das suas próprias falas...), utilizavam até o seu jeito de dizer e de olhar as coisas...É que mais tarde, as suas vestes já não puderam servir de modelo para os novos tecidos que quiseram criar um rumo estilístico autónomo. Não, ela não guardou qualquer ressentimento por haver quem passasse a vestir-se e a falar sem a ter como primeira marca de referência. (Aliás, esta senhora, fiel da balança do tempo, exerce ainda algum fascínio sobre a maneira como muitas vezes medimos e dizemos as nossas coisas... ) Como...? O seu nome? Ora, admiro-me de ainda não o terem perguntado. Sempre ouvi aos meus poucos amigos, com quem raramente troco estas impressões , tratá-la por Sofia. E é o que faço: quem sou eu para lhe atribuir outro nome? Sei, porém, dum amigo que a trata por um nome, ou uma forma, mais familiar... Mas há uma terceira particularidade bem curiosa: trata-se de uma senhora cujo andar e porte fazem lembrar as antigas mulheres gregas, e por associação, o espírito dos gregos. Se tiverem a alegria, e a sorte, de conseguir perscrutá-la, sentirão como toda ela respira leveza majestosa, altura, sobriedade, uma elegância ... Enfim, coisas raras hoje, concordarão vocês. Pois no que me diz respeito, devo dizer que foi principalmente a peculiaridade desse seu rosto enigmático que me levou, porventura ao contrário de muita gente, a encontrar uma direcção no descampado que é esta pura existência da Vida --- dentro da qual qualquer gesto meu e vosso não deixa obviamente de se inscrever, como sucede com esta própria conversa que temos neste terraço... Absortos, e até preocupados nós, na rede dos mil e um afazeres do nosso quotidiano (e quantos deles, sabemo-lo depois, não passam de ninharias...) é ou não verdade que não temos querido nem podido dar o devido apreço e sentido a esta questão...?Ainda por cima as novas tecnologias de informação, se nos dão espaço por um lado, por outro, roubam-nos tempo quando deviam até aumentá-lo ...Enfim! Ora, numa altura em que eu caminhava ao início da noite...(Desculpem... olhem quem está a passar ali em baixo perto da margem... já agora, antes de continuar, estou a reconhecê-lo... é aquele amigo que há bem pouco vos referi. É o tal que não a trata pelo nome a que me habituei; prefere chamar-lhe Filo ou Filu, com ou sem o o fechado. Talvez seja o diminutivo de algo... mas já não me recordo de quê...No fim de contas, que importa um nome?). Bom, mas regressemos ao leito da nossa conversa. Como dizia, numa altura em que caminhava ao entrar da noite aqui perto de casa (lembro-me até do nevoeiro que tornava muito baça a luz pública), acabei por ver --- não, não é bem descobrir --- que a pura existência da Vida só pode ser a expressão metafórica de algo... E que esse algo necessariamente nos transcende... E daqui apercebi-me que esse carácter transcendente da existência pura da Vida, se liga forçosamente a algo de sagrado...Como quem se suspende dum degrau, compreendi em toda a linha que só pode ser claramente esse o seu Sentido, a sua direcção...mas uma direcção ainda sem fim... Por sua vez, foi a partir daí que as portas dum certo entendimento da sombra (ou do peso luminoso?) de Deus no mundo se me tornaram mais leves, mais claras. Creio que vocês facilmente imaginam a alegria respirável pelo ar fresco que passou a entrar, desde então, nas velhas janelas da minha casa! Era por elas que dantes tentava olhar os passos humanos na paisagem... ...Como? Sim, sim, na larga paisagem da alma! Reconheço agora que foi a Senhora do tempo e das idades ---ou melhor, a minha atitude para com ela --- que me fez continuar o meu caminho até ir aos poucos entendendo (e sentindo) que Deus é o que não pode ser nomeado, nem conhecido...Irradiando dEle a palavra da palavra, paradoxalmente não pode ter um nome... porque atribuir um nome seja ao que for, é de certa forma possuir a coisa nomeada, assim dominando-a ... Convenhamos que isso se tornaria no maior dos absurdos! E assim, se é que me exprimo bem (o que bem duvido...) percebi quanto a Vida é o mistério dos mistérios...e quanto o universo, tal como o vou vendo, se foi tornando, naturalmente, ainda mais fascinante para mim, inserido numa cósmica e inapreensível metáfora de Deus... ...Se vale a pena mudarmos de lugar e de paisagem? Porque não? Merendámos, saímos --- não fechei a casa porque regressaria dali a umas horas --- e fomos saborear os passos e o olhar para junto do rio. E caminhámos no sentido contrário ao do mar: porque fomos aprendendo que é na nascente onde melhor se sonha com a foz... Oliveira do Douro, Janeiro de 20007 Francisco Martins
publicado por julmar às 14:19
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Sexta-feira, 2 de Março de 2007

Para que serve a filosofia?

«Para que pode servir a filosofia contemporânea? Para viver juntos da melhor maneira: no debate racional, sem o qual não existe democracia; na amizade, sem a qual não existe felicidade; finalmente, na aceitação, sem a qual não existe serenidade. (…) trata-se de conquistar a paz e a amizade consigo próprio e com o outro, com a cidade (o que é política), e com o mundo (o que é sabedoria). Dir-se-á que isso não é novo … A filosofia nunca o é. A sabedoria é-o sempre»

A Sabedoria dos modernos, André Comte Sponville

publicado por julmar às 16:23
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