António Gedeão (1906-1997), pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, nasceu e faleceu em Lisboa. Além de poeta, foi professor de Ciências Físico-Químicas, aliando a ciência à literatura. Obras poéticas: Movimento Perpétuo (1956), Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967), Poesias Completas (1975), Poemas Póstumos (1983), Novos Poemas Póstumos (1990). Ficção: A Poltrona e Outras Novelas (1973). Teatro: RTX 78/24 (1963). Estudos: História da Fundação do Colégio Real dos Nobres (1959).
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria...
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!
Olha. Sabes? Lá na Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileu!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando um perigo
para a Humanidade
e para a civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscava os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma
Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juizes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andava a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso, estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.
Após conversarmos sobre este tema e debatermos esta tese, um dos meus colegas chegou à conclusão que a filosofia é dispensável à vida, que não precisamos dela para viver, disse também que apenas a água, o ar e o pão eram indispensáveis para vivermos bem.
Depois de pensar um pouco e não estando nada de acordo constatei que somos animais racionais e ao longo da nossa existência teríamos problemas concretos para resolver, visto que a filosofia é a procura de resposta para estes mesmos problemas, como poderíamos viver sem ela? Talvez se quisessemos ser animais como outros quaiquer não precisassemos de ter resposta para nada, conseguiriamos viver apenas de alimento e de ar, mas todos queremos ir além disso, somos e queremos ser diferentes e racionais, por isso precisamos de muito mais para além de alimento e de ar, precisamos de pensar, precisamos de ter soluções para os problemas que nos vão aparecendo ao longo da nossa viagem por este mundo. Assim, posso afirmar que a tese do meu colega não é verdadeira e que a filosofia é das coisas que não podemos dispensar do nosso dia-a-dia.
Letícia Silva nº12 10ºA
António Gedeão, de que se comemora o centenário do seu nascimento, é um dos meus maiores mestres. Lembro-me que aprendi a forma das folhas através dos seus poemas. Lembro-me como me soube o poema 'Galielu' , que se colou a mim até hoje, dito por Mário Viegas e como se colaram a mim outros poemas: Lágrima de preta, Impressão digital, Pedra Lioz, Catedral de Burgos e tantos outros. Quando digo que se colaram em mim, quero dizer que sem dar conta os sei de cor. Toda a sua poesia respira ciência.
Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos".
Mas o meu coração é como o dos compêndios
Tem duas válvulas ( a tricúspide e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue a circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.
Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados
e uma lâmina baça e agreste, que endurece
a luz nos olhos em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.
Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?
António Gedeão
“Sê o que quiseres, mas procura sê-lo totalmente”
Na minha opinião é preferível ser roubado a roubar.
Enquanto que quem é roubado perde apenas valores materiais, quem rouba perde valores morais. Podem achar que é preferível perder valores morais do que perder valores materiais, os segundos valores são mais valiosos. Eu não concordo, pois necessidades materiais todos os animais as têm mas a necessidade de valores morais é característica do homem. Se deitarmos fora esses valores morais deitamos fora o que nos torna humanos, pois ao contrário dos valores materiais que podem ser substituídos o mesmo não se passa com os valores morais. Estes uma vez perdidos não podem ser recuperados.
Susana Rocha
Nós somos aquilo que fazemos e escolhemos. Essa é a mensagem que o texto nos transmite. Mas como é que sabemos o que fazer? O que escolher? As inúmeras possibilidades que temos não vêm com rótulos a dizer “má escolha” ou “boa escolha”, e mesmo que viessem isso seria relativo, pois, na minha opinião, não existem coisas boas e coisas más, apenas possibilidades e objectos. O que o homem faz a partir disso é que determina se o resultado será bom ou mau. Talvez o que nos guia neste mar de possibilidades seja a nossa consciência e os nossos valores. Mas para podermos chegar a uma conclusão temos de pensar “A consciência é igual para todos?”. Sabemos que os valores morais são adquiridos e desenvolvidos, mas, e quanto á consciência? Será esta inata ou adquirida? Podemos dizer que todos nascemos com uma consciência mas que o que ela nos dita é diferente para toda a gente, pois esta está relacionada com os nossos valores.
Observamos então que estes estão interligados, tal como tudo na vida. Daí o podermos afirmar que somos o que fazemos e escolhemos, pois as nossas escolhas estão interligadas com a nossa vida, afectando-a. Se é para o bem ou para o mal, depende de cada um.
Susana Rocha
A Associação de Professores de Filosofia lança um desafio aos aprendizes de filósofo: Responder às perguntas que se seguem ao texto.
O 10º A da Escola secundária de Oliveira do Douro aceita o desafio.
“Todo o homem é culpado do bem que não fez”
Vida
Educado num colégio de jesuítas desde jovem se proclama livre-pensador. Distingue-se nos salões parisienses como poeta e satírico brilhante, mas a sua actividade dirigindo versos contra o Regente de França, Filipe duque de Orleães, leva-o a ser detido na Bastilha (1717). Com onze meses de prisão conclui a sua primeira tragédia, Oedipe. Depois de um duelo com um membro da nobreza, é novamente liberto. É liberto ao fim de duas semanas, comprometendo-se a sair de França; vai então para Inglaterra em 1726.
Aí ficou até 1729, publica ensaios sobre Poesia e História e torna-se admirador do sistema político britânico. De volta a França prossegue e pública obras de exaltação do sistema liberal inglês e a condenação do despotismo.
Muda-se para Potsdam em 1751, onde desempenha o cargo de camarista e guia literário de Frederico o Grande. Mas incompatibiliza-se com o rei da Prússia em 1753 e leva uma vida errante até 1755, ano em que se estabelece numa propriedade que baptiza Délices, próximo de Genebra.
Obra
Lettres philosophiques; Eléments de
Pensamento
Mestre da ironia, utilizou-a como arma superior do indivíduo civilizado para atingir os seus inimigos, frequentemente por ele parodiados, demonstrando em todos os momentos um finíssimo sentido de humor.
São conhecidas as suas divergências com Montesquieu sobre o Direito dos povos à guerra. Voltaire não vê oposição entre uma sociedade alienante e um indivíduo oprimido mas antes crê num sentimento universal e inato da justiça, que tem que observar-se nas leis de todas as sociedades. A vida em comum exige uma convenção, um contrato social para preservar o interesse de cada um. O instinto e a razão do indivíduo levam-no a respeitar e promover tal pacto. O propósito da Moral é ensinar-nos os princípios desta convivência frutífera. O trabalho do homem é tomar o seu destino nas suas mãos, melhorar a sua condição mediante a ciência e a técnica e dar beleza à vida através da Arte.
A sua filosofia prática prescinde de Deus, ainda que Voltaire não seja ateu; o universo implica a existência de um "eterno geómetra" (Voltaire é teísta). No entanto, não crê na intervenção divina nos assuntos humanos e denuncia o providencialismo em Cândido, onde muitos críticos percebem o ataque irreverente – e mesmo distorcido – ao pensamento de Leibniz.
Viveu como um fervoroso opositor da Igreja Católica que, segundo ele, era um símbolo da intolerância e da injustiça. Por esse motivo pode ter sido incapaz de fazer justiça ao Cristianismo. Mas revelou, em contrapartida à sua postura ideológica acerca da Igreja, a sua profissão de fé à religião Católica, em um texto assinado por ele mesmo, publicado numa revista francesa. Neste texto, o pensador francês pede perdão a Deus pelas faltas cometidas e por ter escandalizado a Igreja por anos. Empenhou-se, também, na luta contra os erros judiciais e na ajuda às suas vítimas. A burguesia liberal e anticlerical fez dele seu ídolo. Se por algum motivo Voltaire ficou na História, foi por nos ter proporcionado o conceito de tolerância religiosa e por ter legado uma impressionante obra literária a um só tempo crítica e satírica. Foi um incansável lutador contra a intolerância e a superstição e sempre defendeu a convivência pacífica entre pessoas de diferentes crenças e religiões.
Migalhas filosóficas
Um mendigo dos arredores de Madrid esmolava nobremente. Disse-lhe um transeunte:
- O senhor não tem vergonha de se dedicar a mister tão infame, quando podia trabalhar?
- Senhor, - respondeu o pedinte - estou-lhe a pedir dinheiro e não conselhos. - E com toda a dignidade castelhana virou-lhe as costas.
Era um mendigo soberbo. Um nada lhe feria a vaidade. Pedia esmola por amor de si mesmo, e por amor de si mesmo não suportava reprimendas.
Viajando pela Índia, topou um missionário com um faquir carregado de cadeias, nu como um macaco, deitado sobre o ventre e deixando-se chicotear em resgate dos pecados de seus patrícios hindus, que lhe davam algumas moedas do país.
- Que renúncia de si próprio! - dizia um dos espectadores.
- Renúncia de mim próprio? - retorquiu o faquir. - Ficai sabendo que não me deixo açoitar neste mundo senão para vos retribuir no outro. Quando fordes cavalo e eu cavaleiro.
Tiveram pois plena razão os que disseram ser o amor de nós mesmos a base de todas as nossas acções – na Índia, na Espanha como em toda a terra habitável. Supérfluo é provar aos homens que têm rosto. Supérfluo também seria demonstrar-lhes possuírem amor-próprio. O amor-próprio é o instrumento da nossa conservação. Assemelha-se ao instrumento da perpetuação da espécie. Necessitamo-lo. É-nos caro. Deleita-nos – E cumpre ocultá-lo.
Bibliografia
pt.wikipedia.org
Trabalho feito por Sílvia Ramos nº 22-10º anoA
O maior erro da vida é o de ter sempre medo de errar
Hubbard, Elbert
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